Carta de suicídio
Matou-se. Descobriu então, na noite gélida e assustadora que não era mais alguém. Ninguém. Assim deveria ser chamada. Conheceu os medos profundos e todos pareciam bobos demais, a vida era vazia e triste e nada do que ela acreditava valia a pena. Então resolveu matar-se.
Queria aos pouquinhos, para que ninguém notasse, primeiro cortou os pulsos da razão, deixou que toda a tristeza pingasse aos poucos, em vermelho. A cada pingo uma lembrança ruim era libertada. Sangrou os maus momentos.
Resolveu chorar a dor da partida de cada uma daquelas dores que se acumularam em si durante muito e muito tempo. Quis esfaquear as mentiras e envenenar as normalidades para que elas jamais pudessem voltar. E o fez.
Ela afundou os medos, receios, decepções. Todos boiaram no mar de sua melancolia interna e, como se prevendo o que viria a seguir, deixaram-se ser arrancados pela equipe de salvamento.
Quando acabou, quando mais nada restava para contar história, ela viu que havia morrido. A triste, desesperada, assustada e sofrida mulher dentro dela já estava de partida. Levando consigo tudo de ruim que conseguia carregar.
A mulher que nasceu no lugar desta, ah, esta mulher. Como um raio de luz penetrando uma janela de vidro translucido, pouco a pouco, durante horas, assim era ela. E o suicídio... Bem, acho que posso, agora, chamá-lo de renascimento!
Carta de suicídio
Reviewed by A escritora sonhadora
on
21:06
Rating:
Post a Comment