Sobre a noite de uma mulher negra — #1




Enquanto tomava banho e fazia um resumo do dia, tive a ideia de "fundar" essa nova parte do blog. Acredito que contar um pouco sobre a luta diária é algo bom para começar. Hoje, em especial, me veio a mente algo que muitas pessoas não tem a miníma ideia de que mulheres no geral e infelizmente, uma porcentagem de mulheres negras passam.

Eu faço faculdade há dois anos e meio, quando eu decidi começar meus pais ficaram felizes, mas tentaram me dissuadir de estudar à noite. Para eles era algo perigoso demais, ficavam com medo de que horas eu voltaria, se estaria bem. Não dei muita atenção a isso porque eu via pessoas estudando à noite, pessoas que trabalhavam de dia e faziam tudo sem reclamar, apenas faziam o que tinham que fazer.

Não levei em consideração duas coisas: eu sou mulher e negra. Sim, talvez para alguns isso seja "vitimismo", "falta do que fazer" ou "mais uma coisa para encher o saco", mas o fato de ser negra, me faz um alvo fácil.

Quando dei conta que era mulher, que era negra, porque muitas vezes nossa ficha demora a cair em relação ao nosso gênero, quando estamos acostumadas a pensar que todos nos tratarão igual, foi um choque. Tive medo de tudo, não falei com ninguém, não disse que sentia e ainda sinto um medo terrível ao voltar para casa, nem que tem dias que a minha rua, naturalmente vazia, me enche de pânico.

Ter que usar salto e olhar para trás e continuar andando com medo de não consegui correr o suficiente ou de cair, é desesperador. Uma vez, e pode ter certeza que essa é a primeira história que conto aqui sobre isso, estava com um vestido preto curto e mais colado ao corpo, fui para a faculdade de sandália havaiana, mas quando cheguei lá troquei pelo salto. Porém, antes de vir para casa eu esqueci de tirar, voltei em um ônibus lotado e quando desci no meu ponto, a primeira coisa que notei foram os olhares.

Uma senhora me julgou de cara, me acompanhou com o olhar e fez uma careta, sorri. Não gosto de gente intrometida demais, não gosto de pessoas que julgam as outras pela roupa que elas usam. Nem por qualquer outro tipo de julgamento, sendo sincera. Tentei não reparar no olhar dos homens e sinceramente, foi o que me fez andar mais depressa.

Sempre acho que tem alguém me seguindo, nessa noite, assim como em muitas outras, não tinha. Cheguei super aliviada ao portão da minha casa, abri rápido e subi correndo. Esse medo, essa correria, esse não saber o que pode vir depois de uma esquina é, sinto-lhes informar, a noite de uma mulher negra!




Sobre a noite de uma mulher negra — #1 Sobre a noite de uma mulher negra — #1 Reviewed by A escritora sonhadora on 13:37 Rating: 5

Um comentário

  1. COMO ASSIM EU NÃO CONHECIA SEU BLOG?? Amei seu conteúdo. Seguindo. Volto sempre <3

    http://obaucultural.blogspot.com.br/

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