Eu sou uma mulher livre!


(imagem tirada da internet, caso souberem crédito, avisem para que eu coloque)

Não falo palavrão. Não posso usar roupas curtas. Tenho que me respeitar. Quem disse que eu posso dizer o que eu penso ? Eu sou o sexo frágil. Tenho que me manter quieta, escutar o que os outros dizem e acatar. Se eu sofro opressão do sexo oposto ? Ah, sim, isso é culpa minha. Quem procurou fui eu. Se eu recebo cantadas ? Recebo sim, senhor, mas o que é que tem de mal nisso mesmo ? Não mata não. Deixe os rapazes falarem, não tira pedaço, não é mesmo ? Até porque isso faz a mulher se sentir muito bem. Não existe opressão em ser chamada de "Gostosa" por alguém que não conhece, nem de ouvir um "Você tá me matando, delicia" de vez em quando. Isso não machuca ninguém.

Sempre vem alguém com um "Tu é tão achada" ou "Tão perdida". Não posso me perder para me encontrar ? Não posso me achar por estar perdida ? Mas eu não questiono, não posso, afinal. Eu estou ali, quietinha no meu canto. Prendendo todos os medos e deixando que todos a minha volta me digam quem eu sou, como devo agir e o que pensar. Isso é ser mulher, não é ? Deixar que os outros pensem por você, esquecer sobre o tal direito de votar, porque votar mesmo ? Porque conseguir bons empregos se os homens é que merecem estar no topo ? Pra quê igualdade mesmo ?

"Você tem que aprender a cozinha direito, menina, ou seu marido vai dar na sua cara", e não era que elas estavam certas ? O que um homem vai fazer com uma esposa que não saiba cozinhar ? Que mãe é essa que não sabe cozinhar ? E se eu quiser ser uma boa mulher, eu tenho que saber cozinhar, fazer tudo direitinho em casa e cuidar direito dos meus filhos. Sempre ouvia minha tia dizer "Isso é coisa de menina fazer, Ilana ?" e então eu perguntava, o que é mesmo que menina pode fazer, tia

Menina pode subir em árvore ? "Isso é coisa de menino, menina", ela dizia. "Tia, eu posso jogar futebol ? Cortar meu cabelo curtinho ? Posso pular ao invés de ficar quietinha, parecendo uma 'mocinha' ? posso fazer quanto barulho eu quiser e sair na rua à noite sem me preocupar que alguém abuse do meu corpo ?" Mas ela não me respondeu. Nem precisava, eu sabia que não podia. É o que diz a regra, mocinhas não fazem isso ou aquilo. 

Mocinhas não se masturbam, então não gozam. Mocinhas seguem o padrão, veem tv, se emocionam com novelas e querem ser as mocinhas das novelas, aquelas magras, altas, loiras, com cabelos lisos e a barriga mais lisa ainda. "É ela que te representa ?", alguém me perguntou e eu fiquei sem saber o que dizer, ela representa a quem ? A mim ? A você ? Coisa estranha, não ? Entrei em uma loja procurando um vestido, saí de lá vestindo um padrão. 

E essa sou eu, ou não sou ? Mais uma vez, pergunto a minha tia,  "Ô tia, eu posso beijar que meu quiser, meninos, meninas ?", "Oxe menina, cê vai beijar mulher ?". Parei pra pensar, tá certa a tia ? Mas se estão dizendo ali, "Todos somos iguais", qual diferença isso aí faz ? Não sei, mas não tô aqui pra reclamar, sigo que os outro dizem, afinal sou mulher, é esse o meu lugar ? 

Mas então eu vi um vídeo, falando que todos somos iguais, homem beija homem, mulher beija mulher, beijar, amar, estar, quem disse que isso faz mal ? Pois é, o vídeo disse que não. Prestei atenção no vídeo e parei de tirar conclusão. Fui assistir outros vídeos e formei minha opinião. Esse corpo que eu habito, ele é meu, eu o uso como quiser. Se a roupa curta me servir, é nela que eu vou, se eu quiser curtir, só me divertir, eu me divirto. Que porra de história é essa de causar conflito ? Pois é, também posso xingar.

Se eu xingo, é porque estou indignada, ou talvez só alarmada, por isso eu digo, se eu xingo, logo existo. Existo porque cansei de seguir um padrão, de deixar que falem com a minha voz, algo que eu não estou dizendo. Estou cansada de ver mulheres sendo maltratadas, humilhadas, jogadas pra escanteio, isso ai, eu também sei o que é futebol e gosto pra caralho!

Eu sou mulher, porra. Não sou sexo frágil não, eu aguento o que muitos homens não aguentariam calados. E aguento com metade do salario deles, porque meu chefe acha o meu trabalho, que é igualzinho ao do meu colega, é inferior. Não porque eu sou uma péssima funcionária, pois não sou, ele me acha indigna, é aquele cara que grita que lugar de mulher é na cozinha, ou que eu dirijo mal porque ao invés de usar "calças" e coçar meu saco, eu menstruo todo mês. 

Que porra de mundo é esse ? Não dizem que os direitos são iguais ? Mas porque eu sou tratada de forma diferente ? É isso que é direito igual minha gente ? Ouvir 'psiu' e 'gostosa' só por estar vestida da maneira que eu gosto de me vestir ? E ainda ter que me conformar com isso ? Ser julgada pela roupa que cobre meu corpo ? Se isso for igualdade, eu sou mesmo o que todos dizem. Sou a garota que não pode pensar, que não pode fazer sexo fora do casamento, nem beber uma cerveja no bar com as amigas.

Sou a garota que precisa ser estereotipada, que precisa deixar a própria identidade de lado, pintar o cabelo de loiro, perder uns 10 quilinhos, sofrer com a tal da chapinha e ainda dizer com todo medo do mundo "A culpa é minha, não é dele" quando eu sofro por algo que não deveria sofrer. É essa a sociedade igualitária em que vivemos ? Se for essa, estou fora. Estou mesmo.

Não nasci pra deixar que pessoas pensem por mim, que me vistam e me coloquem em um máquina de copias. Eu sou uma mulher livre, apesar dos comentários racistas, dos comentários machistas, de toda porra que eu ouço todo dia. Eu sou livre. E eu espero, de todo coração, que vocês também sejam. Porque ninguém merece viver refém desse maldita prisão que é comandada - infelizmente - pela comunicação.  Pela mídia. Pela padronização. 





Eu sou uma mulher livre! Eu sou uma mulher livre! Reviewed by A escritora sonhadora on 19:07 Rating: 5

Nenhum comentário